Porteira velha, emperrada O seu fim é um suplício Lá bem longe, no início Quando tu foste sentada Com capricho, acabada Dava gosto de se ver Até o som do “gemer” Que do atrito advém E toda porteira tem Ouvi-lo dava prazer A boiada esperava Paciente, sua hora Prosseguindo, sem demora Quando o guia escancarava E o vaqueiro que guiava Chamava o gado, aboiando O rebanho, atrás, urrando Como que compreendendo No mesmo tom respondendo: - Dá licença, vou passando Por ti passava o vaqueiro No seu burro bem zelado E o careto, calçado Que montava o fazendeiro O trabalhador, meeiro Tangendo o seu jumento Carregando seu sustento: Milho, feijão, melancia Mas chegando ao fim do dia Por ti só passava o vento Ou melhor, vou corrigir: Pela sua imponência Sem a sua anuência Não passava por ali Nada podia seguir Em ti, tudo esbarrava O vento lhe respeitava Desviando noutro prumo O preá mudava o rumo E nunca lhe afrontava Como que em um quartel Que se bate continência Saudando na reverência A patente coronel Até as aves do céu Respeitavam, ao pousar Escolhendo pra sentar Na cerca que segue ao lado Nem os touros do cercado Ousaram em ti marrar Mas da glória do passado Só lhe resta o gemido Soando bem mais sofrido Quando sendo acompanhado Do ruído do arrastado Quando roça pelo chão Que cruel humilhação Ver a mais bela porteira Perto de virar fogueira Ou lenha para o fogão Em vez de gado no pasto E porcada no chiqueiro Com galinhas no terreiro E um cachorro bom de rasto Um belo roçado, vasto E muito peixe no rio A natureza no cio Com fartura que nos pasma Só nos restou um fantasma De tudo que existiu Sou o mourão que a sustenta E nunca cedeu um palmo Confesso, não estou calmo E nada mais me alenta O futuro que se aventa Machuca mais que lancete Eu afirmo, sem falsete: Desejo que o cupim Possa abreviar meu fim A ter que firmar colchete (Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)
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